Shanna foi baleada quando chegava em um centro comercial, na Barra, no ano passado. Nos últimos 16 anos, a empresária viu pai, marido, irmão e tio serem assassinados. Motivo seria a disputa pelo espólio de R$ 25 milhões do contraventor.
Por Erick Rianelli e Márcia Brasil, G1 Rio
A Polícia Civil e o Ministério Público iniciaram nesta terça-feira (16) a Operação Sucessão, para investigar a tentativa de homicídio contra Shanna Garcia, em outubro do ano passado, e as mortes de parentes dela nos últimos anos. Shanna é filha do bicheiro Maninho, morto em 2004.
A Justiça emitiu 22 mandados de busca e apreensão -- não há mandados de prisão. Um dos alvos é o empresário Bernardo Bello, ex-cunhado de Shanna e ex-presidente da Vila Isabel.
Bernardo não foi encontrado em casa, mas no local os agentes apreenderam celular, computador e um carregador de pistola 380. Quatro mandados são em endereços de policiais e ex-policiais.
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Shanna Garcia chega à DH para prestar depoimento — Foto: Jose Lucena/Futura Press/Estadão Conteúdo
Bello foi apontado por Shanna como autor intelectual do atentado e prestou depoimento na condição de testemunha. Segundo os investigadores, o motivo dos atentados é a disputa pelo espólio de R$ 25 milhões do contraventor Maninho.
No início deste ano, o contraventor Bid, tio de Shanna, foi morto na Barra da Tijuca. Na época, ela disse que esperava uma resposta para os crimes que envolvem sua família. Nos últimos 16 anos, a empresária viu o pai, o marido, um irmão e um tio serem assassinados.
"Estão matando minha família toda, e ninguém dá resposta. A gente sabe quem são os interessados. Eu estou com a minha vida totalmente privada, com medo pelos meus filhos, isso está repercutindo na família inteira. A gente só quer uma resposta das autoridades”, afirmou ela, chorando.
Atentado no estacionamento
O atentado contra Shanna aconteceu quando ela chegava em um centro comercial da Barra e levou dois tiros.
Na ocasião, Shanna conseguiu fechar a porta do carro, que era blindado, e se proteger. Bid Garcia chegou a ser ouvido no inquérito sobre o atentado contra a sobrinha.
Sobre a morte do contraventor, assassinado na terça-feira de carnaval, ao menos dois seguranças de Bid já foram ouvidos. Um deles é ex-PM e foi expulso da corporação.
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Bernardo Bello vai a delegacia prestar depoimento após atentado contra Shanna (arquivo) — Foto: Henrique Coelho / G1
Shanna voltou a acusar o ex-cunhado Bernardo Bello de ser o mandante de um atentado contra ela no ano passado. Na ocasião, Bello chegou a ser ouvido na DH e seus advogados não falaram com jornalistas no local.
Irmão do bicheiro Waldemir Paes Garcia, o "Maninho", Bid foi assassinado a tiros quando chegava em casa após os desfiles na Sapucaí, na terça-feira de carnaval. Ele foi atingido por mais de 20 tiros.
Shanna disse que prestou o depoimento desta segunda por "espontânea vontade", para ajudar a tentar solucionar o caso.
Perguntada sobre a ligação entre o atentado contra ela e o assassinato do tio, Shanna disse que acredita que haja associação e que "só uma pessoa teria interesse nas mortes dela e do tio".
“É o Bernardo [Bello]. Ele é o único interessado na morte da família toda. Por mais que ele já controle todo o ponto da contravenção, e já controle tudo do inventário, a gente sempre vai ser uma pedra no sapato dele”, afirmou.
Histórico
- A família de Bid é ligada à contravenção há mais de 40 anos
- Bid era filho de Waldomiro Garcia, o Miro, morto em 2004
- Dias antes, Waldemir Paes Garcia, o Maninho, irmão de Bid, foi morto
- Em 2011, o marido de Shanna, José Luiz de Barros Lopes, conhecido como Zé Personal, foi morto em um centro espírita na Zona Oeste.
- Em 2017, o filho de Maninho, Myro Garcia, de 27 anos, foi sequestrado e também assassinado
- Em outubro de 2019, a filha de Maninho, Shanna Garcia foi baleada em um atentado em frente a um shopping e sobreviveu.
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Bid mostrava em rede social que gostava de caçar — Foto: Reprodução
Morte de Bid
Alcebíades Paes Garcia, irmão do bicheiro Waldemir Paes Garcia, o "Maninho", pai de Shanna, foi assassinado com mais de 20 tiros disparados contra a van em que ele estava.
O crime aconteceu quando o bicheiro chegava no prédio da companheira, na Rua Jornalista Henrique Cordeiro, na Barra da Tijuca, Zona Oeste da cidade.
Segundo testemunhas, pelo menos dois homens com toucas ninja esperavam a chegada de Bid em um carro preto.A polícia trata o caso como execução, uma vez que apenas Bid foi baleado.
Havia outras pessoas na van, mas elas escaparam ilesas. O contraventor foi atingido na cabeça e no tórax.
Há pelo menos 20 anos não havia assassinato envolvendo a cúpula da contravenção ou seus herdeiros durante o período de carnaval.
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Policial faz perícia na van onde estava Alcebíades Paes Garcia, o Bid, irmão do contraventor Maninho — Foto: TV Globo
Jogo do bicho e a família Garcia
Bid era apontado pela polícia como um dos chefes do jogo do bicho no Rio de Janeiro. Ele assumiu o posto após o irmão Maninho ter sido assassinado em setembro de 2004.
Em abril de 2017, o irmão de Shana e filho de Maninho, Myro Garcia, de 27 anos, foi assassinado. O herdeiro foi sequestrado ao sair da academia onde malhava, também na Barra da Tijuca.
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Contraventor Maninho Garcia — Foto: Reprodução/TV Globo
Ele se apresentava como jogador de pôquer e fazia muitas viagens internacionais para participar de torneios, chegando a ganhar US$ 65 mil numa competição no Chile. Por isso, ele não costumava ter sua imagem ligada ao jogo do bicho.
Myrinho, como era conhecido, foi baleado por sequestradores ao deixar o carro dos criminosos, e logo após pagar o resgate.
Myrinho tinha 15 anos quando viu o pai Maninho ser assassinado, em setembro de 2004. Ele e Maninho tinham deixado a academia de ginástica Body Planet, na Freguesia, em Jacarepaguá, quando o pai foi alvo de disparos. O herdeiro também foi atingido, mas sobreviveu.
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Shanna no Salgueiro no carnaval de 2018 — Foto: Reprodução/Redes Sociais
Quando foi morto, Maninho tinha 42 anos e respondia por vários crimes, entre eles formação de quadrilha e contrabando, pelo qual foi condenado a seis anos de prisão, em 1993, peja juíza Denise Frossard. Passou três anos e meio preso, sendo solto em outubro de 1996.
Ele era presidente do Conselho Fiscal da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro. Conhecido por ser violento, arrogante e mulherengo, Maninho era temido até pelos bicheiros da velha-guarda.
Seu envolvimento com atividades criminosas ia além do jogo do bicho. Também era dele parte do negócio de caça-níqueis, especialmente os instalados em Copacabana, na Zona Sul.
No Salgueiro, sucedeu o pai Waldomiro Garcia, o Miro, na função de patrono. Ele também era conhecido por ser "mão de ferro" na condução dos negócios.
Miro era presidente de honra do Salgueiro e membro da cúpula do jogo de bicho no RJ e em outros estados brasileiros. Ele estava doente, quase cego, e morreu de infecção pulmonar, aos 77 anos, 34 dias após o assassinato de Maninho.
Maninho e o pai Miro Garcia durante desfile do Salgueiro no carnaval — Foto: Reprodução/ TV Globo








